🧰 tiago gasperin

Como terminar sketchbooks incompletos (de maneira extrema)

Tomei uma decisão extrema, dramática até. Tenho certeza de que ela é imperdoável para alguns: fiz com que cinco cadernos fossem concluídos forçosamente.

Eu posso explicar.

Tenho uma mania de acumulação de sketchbooks incompletos. Sketchbooks são esses cadernos, geralmente sem pauta, utilizados para (mas não só) rascunhos, rabiscos e notas.

Eu compro um desses cadernos, utilizo suas primeiras páginas -a primeira metade, talvez- e depois não tenho coragem de continuar. Sinto que não sou capaz de entregar tudo que aquelas páginas imaculadas esperam de mim, que meus desenhos não são coerentes o suficiente, que minhas anotações não são poéticas o bastante.

O sketchbook é bonito demais (e eu tenho medo de estragar), ele tem páginas demais (e é muita responsabilidade preencher tudo aquilo) ou ele é grande demais (e eu não consigo levar ele pra muitos lugares).

Nos últimos anos, isso aconteceu com cinco cadernos. Cinco cadernos começados e somente começados. Cheios de páginas em branco. Daí o meu ato extremo.

Numa manhã de tempo chuvoso, peguei esses cadernos que nunca viram a luz no fim do túnel, que viviam atormentados e clamando por um encerramento, por uma conclusão. Fui identificando as páginas que ainda estavam vazias e, utilizando o método mais condizente com a respectiva encadernação, comecei a removê-las.

Foi um ato brutal, não nego. As páginas soltando de seu caderno de origem não são uma visão bonita de se ter. O segredo é não pensar muito. Mas, quando enfim removidas, só remanescia a sensação de alívio. Aquele caderno que esperava ser acabado a tanto tempo, finalmente vivia seu fim. De uma forma ou de outra ele estava completamente preenchido, não restavam mais páginas em branco.

Claro, eles não estão mais no auge de sua aparência. Com suas espessuras modificadas e lombadas danificadas, eles se apresentam de maneira um pouco torta na minha prateleira, mas nada que os impeça de desempenhar sua função. Eles ainda são eficazes materiais de referência e de armazenamento das ideias que neles foram gravadas.

Antes que me pergunte, as folhas removidas terão um destino digno: se tornarão novos sketchbooks. Há um tempo, decidi começar a fazer meus próprios cadernos. Esses, tem a quantidade de páginas ideal (no máximo 50), o tamanho ideal (A6 ou menor) e têm uma aparência bem caseira, o que torna a utilização deles muito mais despretensiosa.

Assim, considero que encerrei cinco processos inacabados da minha vida. Esses cinco que vão dar origem a vários novos processos. Dessa vez, pensados e criados de maneira que eu consiga levá-los em frente.


Para você que se interessou no processo de criação de cadernos eu recomendo demais esse vídeo do canal Miscast(em inglês) onde ele ensina a criar junk journals, cadernos feitos de forma rápida e com sobras de papéis.


Da esquerda para a direita: o primeiro sketchbook feito à mão por mim no tamanho perfeito para levar para todo canto, já todo preenchido; o caderno que está sendo utilizado nesse momento; o caderno do futuro, feito a partir das páginas dos outros e experimentando um tamanho um pouquinho maior. As capas são gravuras antigas, papéis velhos e outras “sobras”.


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