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Sobre estalos, grades e outros meios de proteção

Tem uns seis meses, eu saí para uma caminhada. Era domingo de manhã, a rua estava deserta. Silêncio completo, se não fosse por uma série de pequenos estalos:

— tec, tec, tec…

Fui me guiando pelos meus ouvidos até me dar conta de que vinham de uma cerca elétrica, em cima de uma construção. Para falar a verdade, não uma, mas uma série de cercas elétricas em cima de uma série de construções e de outras cercas.

— tec, tec, tec…

Proteção. De quê? Para quê? No entendimento mais ordinário: proteção contra arrombamentos do estabelecimento comercial ou residencial privado. Contudo, naquele momento tudo me soou estranho. Sem sentido.

— tec, tec, tec…

Os estalos tomaram conta dos meus ouvidos, rompendo com uma certa calmaria. Junto deles, a percepção de outras proteções urbanas similares. De objetos que existem para que algo não seja ultrapassado fisicamente, mas que podem ser vistos através. O que quem está dentro quer ver do lado de fora? O que quem está do lado de fora quer ver do lado de dentro?

— tec, tec, tec…

Penso sobre quais sentidos de deslocamento são impedidos por esses objetos. A entrada no perímetro delimitado é impedida? Ou a saída dele que o é? Quem entra tem uma chave, um cartão, um meio de entrada e saída. Porém, esses meios de entrada e saída permitem essas ações livremente?

— tec, tec, tec…

Espaço sonoro preenchido, foi a vez do espaço visual. Até o fim da minha caminhada fui acompanhado de perto pelas lanças pontudas que, unidas por uma barra transversal, compõem as cercas. Notei o quanto elas possuem um caráter bélico, amedrontador. Senti que percorria por uma fila de soldados, cada qual de porte de sua arma. Prontos para defender o que quer que esteja atrás deles.

— tec, tec, tec…

Disso, uma vontade de testar. De por à prova aqueles métodos. Se eu apoiar a minha mão sobre uma das lanças, ela vai ser perfurada? Se eu me apertar o suficiente, eu consigo passar entre elas? Se eu tocar em um dos fios da cerca elétrica eu vou ser eletrocutado? Penso se tudo não passa de um blefe, pontas de lança cegas, fios elétricos sem corrente. Uma caixinha de som escondida, que emite um loop de pequenos estalos.

— tec, tec, tec…

Um cálculo cuidadoso para sustentar uma convenção social. Não ultrapasse: esse território pode ser visualizado, mas não ocupado.


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