🧰 tiago gasperin

Nostalgia e postes de luz

Esta é uma reprodução do conteúdo da 7ª edição da newsletter Indústrias Tiago. Caso queira assinar a newsletter é só descer até o rodapé da página 😉

Nostalgia e postes de luz

A minha cabeça, por algum motivo que ainda estou tentando entender, resolveu entrar em modo nostálgico nos últimos dias. Boas e más memórias do meu passado, começaram a voltar e percebi um elemento constante nas lembranças que tenho mais apreço: postes de luz!

Na verdade, não só postes, mas todo o ambiente que os acompanha junto da sua luz amarelada. O céu escuro, a brisa leve da noite que bate no rosto, as ruas vazias, os letreiros iluminados de lojas que ajudam a compor a iluminação do ambiente.

Essa ambientação que fiz agora já me deixa com uma sensação gostosa no peito, um sentimento levemente melancólico que combina com o Lo-fi que toca no meu presente (e no seu passado) enquanto eu escrevo essa newsletter, uma calmaria que passa a habitar a cidade enquanto ela dorme. Claro, que esse é o caso da cidade pequena onde eu cresci, em que a vida noturna e os postes de luz azul são praticamente inexistentes.

Três ocasiões específicas, em que os postes figuram nas minhas memórias, me vieram a mente com mais força:

  • Quando tinha uns 6 ou 7 anos, eu costumava acordar de madrugada nos sábados (algo em torno das 5 horas da manhã) e assistir diversas séries de gosto duvidoso, que o SBT usava para preencher a programação noturna. Sempre que eu chegava na sala, antes de ligar a TV, eu abria a maior janela e por alguns segundos ficava lá, parado, observando a cidade iluminada pelas luzes dos postes ao longe, escutando o som dos raros carros que calmamente passavam pela rodovia e sentindo a brisa da madrugada gelando meu rosto. O azul denso do céu querendo amanhecer era o toque final dessa paisagem que, todo sábado, me fazia acordar empolgado para ver ela.
  • Outra lembrança, é de quando eu tinha uns 16 anos. O ano estava acabando e as festas de formatura de ensino médio começavam a aparecer. Em uma dessas festas, eu lembro de ter saído com amigos para cuidar de alguém que estava passando mal. Havia uma praça ao lado do clube e ficamos lá, admito que o lado de fora das festas era o que eu mais gostava. Enquanto conversávamos, a menina que eu gostava na época se apoiou no meu ombro e me abraçou. Eu fiquei sem jeito e a gente ficou abraçado assim por algum tempo. Era madrugada e os postes da praça jogavam a luz amarelada deles sobre a gente.
  • A útima situação aconteceu no ano passado. Eu já não morava mais na cidade pequena onde cresci, mas havia voltado para passar um final de semana. Em uma noite, saí com um dos meus melhores amigos para conversar. O nosso encontro seguiu o padrão de sempre: compramos algumas cervejas no mercado e ficamos vagando sem rumo pelas ruas do centro da cidade. Uma chuva forte começou a cair e nos abrigamos embaixo da marquise de um prédio, sentamos em uma pequena escada que havia ali e continuamos conversando. Não havia ninguém na rua, o som da chuva preenchia o fundo da nossa conversa e eramos iluminados por postes amarelados e um outdoor de LED que projetava diferentes matizes sobre a gente. Lembro de contemplar, por breves instantes, o quanto aquele momento seria único na minha memória.

O que eu ando fazendo

As últimas semanas foram meio caóticas e por isso essa edição demorou um pouco para chegar na sua caixa de e-mails.

Nesse meio tempo, coloquei no ar duas produções em vídeo que te convido a assistir:

Muitas coisas e coisa nenhuma

Muitas coisas e coisa nenhuma: foi criada em conjunto com a artista e amiga Gustiele Fistaról, pelo edital FAC Digital. Nela, exploramos o conceito de infraordinário através de vídeos, texto e animações.

JOGO #1

JOGO #1: é um jogo que joguei contra mim mesmo. Criado para a cadeira de desenho da faculdade, eu explorei a quebra e criação de lógica, o acaso e rituais.


Verbos

lendo – O livro Se um viajante numa noite de inverno de Italo Calvino. A maior parte da narrativa do livro é escrita em segunda pessoa, isso abre espaços muito cativantes de exploração.

assistindo – A série Sex Education da Netflix, que vi fazem algumas semanas. A estética da série é linda e tem um roteiro gostoso demais. Gosto de como ela insere personagens de diferentes tipos de maneira natural e sem ignorar os aspectos inerentes a eles (fez sentido isso?).

ouvindo – para ficar no clima do ambiente criado pelos postes de luz, esse mix de lo-fi.


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