🧰 tiago gasperin

A polêmica do sanduíche

Esta é uma reprodução do conteúdo da 4ª edição da newsletter Indústrias Tiago. Caso queira assinar a newsletter é só descer até o rodapé da página 😉

Quinta, 09 de julho de 2020

Bom, chegou o momento de abordar alguns assuntos sérios e polêmicos nessa newsletter. Sim, mais polêmicos do que o fato de eu achar brigadeiro uma sobremesa superestimada…

Sem mais delongas, vamos embarcar nessa aventura:

O que, afinal de contas, é um sanduíche?

Quero começar esse texto, propondo que você pare por um ou dois minutos, para refletir sobre a questão: “Cachorro-quente é um sanduíche?”.

Refletiu? Eu acredito que a resposta dessa pergunta, pode ser a base para te encaixar em uma das escolas de pensamento sanduísticas (calma, já vou chegar nelas). Escutei essa reflexão pela primeira vez em um podcast qualquer e, desde então, venho propondo ela para diversas pessoas. Posso dizer que ela motivou uma série de discussões acaloradas em muitos círculos de amigos.

Para algumas pessoas, o cachorro-quente é, indiscutivelmente, um não-sanduíche. O fato do pão que compõe ele não ser dividido completamente ao meio, é um argumento muito utilizado. Nesse momento, gosto de invocar o célebre sanduíche de presunto do Chaves, que muitos consideramos pertencente à essa tão saudosa categoria, mesmo sem o pão ser completamente separado. Daqui, geralmente, partem para uma restrição nos ingredientes que podem compor um sanduíche: queijo, presunto, saladas, condimentos… Acredito que esse argumento pode ser facilmente rebatido ao observarmos, em uma vitrine de padaria qualquer, os chamados: sanduíches naturais. Eles contém os ingredientes mais diversos e, limitar essa gama de possibilidades, invariavelmente, irá negar o direito de ser de algum sanduíche natural que carrega alguma proposta mais ousada.

Muitos outros pontos podem ser debatidos, como o fato do sanduíche ser necessariamente consumido frio, o que pode ser rebatido com a opção de esquentar seu sanduíche no Subway. Eu tenho certeza que você é capaz de listar mais alguns argumentos contra, mas acredito que tenha entendido o meu ponto.

Agora, um pouco de história (direto da Wikipédia):

Apesar do costume ancestral, a fama – e o nome – do sanduíche vieram em 1762, com o inglês John Montagu, 4.º Conde de Sandwich, uma vila da Inglaterra. Conforme o historiador Edward Gibbon, o conde comia fatias de pão com salame para não precisar interromper as partidas de uíste, jogo de cartas popular entre os britânicos. Um dos parceiros de carteado do conde, James Cook, deu o nome de Sandwich a ilhas do Oceano Pacífico descobertas por ele em 1778; hoje, tais ilhas são chamadas de Havaí. Também existem, no Oceano Atlântico, a sudeste da América do Sul, as desabitadas ilhas Sanduíches do Sul.

Sim, eu deixei a parte sobre as ilhas Sanduíches porque acho divertidíssimo elas se chamarem assim. Mas, voltando ao sanduíche, podemos ver que o conceito original criado pelo Conde é pouco abrangente, se for seguido à risca. O ponto aqui é que, quando colocamos uma criação no mundo, ela não mais nos pertence. Temos sim, leis e dogmas, que vão tentar restringir os direitos sobre essa ideia ao seu criador (muitas vezes num sentido financeiro). Porém, no momento que ela for absorvida por alguém, ela já vai ter sido recriada na cabeça dessa pessoa e, conforme se difundir, ela vai se transformar cada vez mais. Acredito que esse seja o caso com o sanduíche.

A partir dessa reflexão, venho advogar pela liberdade de uso desse conceito. Mais ainda, o reconhecimento do conceito de sanduíche como algo abrangente que não precisa ser, necessariamente, comestível. Agora você pode estar pensando “Tiago, você foi longe demais!”. Contudo, posso citar alguns exemplos de sanduíches, já difundidos na nossa cultura, que não são comestíveis: o doutorado sanduíche, o homem-sanduíche (a menos que você pratique canibalismo), o teorema do sanduíche e, por que não, as ilhas Sanduíches do Sul.

Dito isso tudo, compreendo que a abrangência do conceito de sanduíche vai depender da visão de mundo de cada um. Acredito que as opiniões sobre o sanduíche devem ser respeitadas. Porém, peço que, independente de sua visão, você esteja aberto a debate-la e questioná-la.

Agora, vamos a tão esperada lista dessa newsletter. Aqui, tento estruturar algumas das escolas de pensamento sanduísticas, certamente irei deixar para trás algumas e estou aberto para caso alguém queira complementar alguma informação.

  • Ultra puristas – Um grupo hiper-conservador quando o assunto é sanduíche. Seguem estritamente os métodos do Conde de Sandwich, limitando os ingredientes somente ao pão e salame. Alguns, inclusive só comem o prato durante o jogo de uíste.
  • Puristas – Conservadores que buscam trabalhar o sanduíche dentro de princípios básicos. Como por exemplo: o uso restrito de duas fatias de pão como invólucro, o sabor ser predominantemente salgado, o alimento ser consumido frio e o recheio ser limitado a proteínas animais, queijos, saladas e molhos.
  • Pós-puristas – Aqui é onde a maioria das pessoas se encaixa, geralmente, por não ter refletido muito sobre o assunto. Possuem definições semelhantes aos puristas, porém, permitem uma gama de experimentações maior. Permitindo sanduíches doces, quentes, torrados… Arriscam até mesmo a possibilidade de outros invólucros, que não duas fatias de pão.
  • Experimentalistas – A corrente libertária do sanduíche. Aceitam uma gama de experimentações imensa, alegando que qualquer alimento pode tomar parte em um sanduíche. Muitas vezes, rompem com o dogma de que o invólucro deve ser composto somente do mesmo ingrediente. São verdadeiros exploradores e muitos se orgulham de suas criações sanduísticas.
  • Conceitualistas – Concordam completamente com a corrente Experimental, mas vão mais a fundo. Os Conceitualistas, se propõem a expandir o conceito de sanduíche para além do alimento. Trabalhando no campo das ideias, constroem exercícios mentais sobre o que conjectura um sanduíche, trazendo proposições ousadas como: ursos de pelúcia serem um sanduíche de espuma, prédios serem sanduíches de pessoas e um diálogo ser um sanduíche de pensamentos.
  • Conceitualistas radicais – Uma corrente extrema, derivada dos Conceitualistas. Ao contrário dos anteriores, que buscam somente expandir o conceito, os conceitualistas radicais querem que os conceitos de sanduíche criados por eles, prevaleçam sobre os outros conceitos linguísticos já existentes. Uma das maiores lutas do grupo é que o termo “planeta Terra” seja abandonado e substituído completamente pelo expressão “Sanduíche de Lava”.

Essa foi a minha reflexão sobre sanduíches. Se quiser, me responde esse e-mail contando a escola sanduística que você mais se identifica ou mesmo qualquer reflexão sobre esse conceito tão incrível que é o sanduíche.


O que eu ando fazendo

Lendo – Semana passada chegou a minha cópia de On the Road, do Jack Kerouac. É uma leitura intensa, rápida, que não te dá muito tempo pra pensar. Quando eu terminar de ler, falo mais dele por aqui.

Assistindo – Novamente, o Youtube me levou para alguns lugares estranhos e posso recomendar o canal Lockpicking Lawyer. Ele faz reviews das mais diversas trancas e cadeados e, quase sempre, consegue destranca-las sem a chave.

OuvindoThe Pixies, banda de rock alternativo que me faz viajar nas músicas, e Gogol Bordello, uma incrível mistura de punk com ritmos ciganos. Acho que escuto essas duas bandas desde que eu tinha uns 16 anos e certamente elas figuram entre as minhas bandas favoritas.


Lista de sanduíches pelo mundo – disruptivo e surpreendente.


esse blog é uma conversa
📧 responda por e-mail




instagram • tiagogasperin84@gmail.com
Indústrias Tiago© 2024